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DIA INTERNACIONAL DA MULHER – preciosas e libertárias: as mulheres da história

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 Ao longo dos tempos a mulher não teve tempo para escolher uma bandeira principal a fim de se fazer reconhecida na sociedade machista e patriarcal, já que eram tantos os entulhos a retirar do caminho. O cinema tem registrado essa luta secular 

Anseio pela ondependência em LIBERTÁRIAS (1996), de Vicente Aranda

Anseio pela ondependência em LIBERTÁRIAS (1996), de Vicente Aranda

À época das antigas civilizações, entre o paleolítico e o neolítico, a mulher era cultuada na figura de deusas, sacerdotisas e guerreiras. O primeiro sentimento religioso da humanidade, a adoração a Terra-Mãe, expressava, entre outros registros, a relação com a natureza e a fertilidade feminina, concebendo uma sociedade preponderantemente baseada no matriarcado.

A mulher como origem do mundo e da vida está estampada em cavernas através da arte rupestre e estatuetas, as quais são vistas como culto ao corpo feminino e a fertilidade de gerar a vida humana. E esse sentido era originalmente cósmico, de divindade, cuja energia compunha e produzia os elementos, a qual os gregos deram a designação de Diakosmos, na tradução, a determinação da Deusa. A dança executada das mulheres daquela época ajudava a manter essa dimensão de culto ao corpo, não apenas pelo formato escultural e gerador de vida, mas igualmente definia uma tradição de beleza, delicadeza, a qual sobrevive até hoje como a sensualidade da Dança do Ventre.

Essa situação teve o seu processo de mudança, dizem os historiadores, com os Hebreus, que celebravam um deus, o Deus dos hebreus, cuja sociedade era patriarcal. Esse processo está registrado, também, na mitologia, tanto babilônica quanto grega. Naquela, o deus Marduk mata a deusa Tiamat e divide o seu corpo em dois; na grega, com a sacerdotisa Píton sendo morta por Apollo que, também, divide corta o corpo dela ao meio e assim assume o oráculo de Delfos.

Os filósofos e as mulheres: Pitágoras, Platão, Santo Agostinho e Aristóteles

Os filósofos e as mulheres: Pitágoras, Platão, Santo Agostinho e Aristóteles

Na época pré-socrática, Pitágoras (580 a.C-497 a.C) estabeleceu a existência de dois princípios, o bom e ruim: Há um princípio bom que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau que criou o caos, as trevas e a mulher. Muito embora Platão (428 aC–348 aC) tenha destacado que a razão fazia homens e mulheres iguais e Santo Agostinho (354 aC–430 aC) tenha acentuado essa distinção à concepção bíblica da mulher – segundo a qual ela tinha sido moldada a partir das costelas do homem –, essa igualdade continuava quando a sua alma abandonava o corpo e no céu desaparecia as diferenças de sexo – passando a alma a ser uma só -, foi o pensamento de Aristótelas (384 aC–322 aC) , que via a mulher como um ser incompleto em relação ao homem – todas as qualidades das crianças já estavam presentes no sêmem do pai -, cabendo a ela a simples função de procriar, o que prevaleceu dali e até a Idade Média. Aristotéles, por sinal, também acreditava no geocentismo de Ptolomeu e que, acolhido pela Igreja, foi estabelecida como a verdade a tal ponto que gerou um período de terror secular chamado Inquisição.

Com Roma trouxe dos hebreus a sua formação social baseada no patriarcado, na figura masculina como deus e da instituição do poder dos pais sobre os filhos e a mulher. Assim, o pensamento era o de que a mulher tinha somente um corpo e uma mente e daí, desprovida de razão. Com esse quadro da mulher como coadjuvante, ficou fácil a mudança do matriarcado para o patriarcado.

Penélope e o assédio: fidelidade ao marido Ulisses

Penélope e o assédio: fidelidade ao marido Ulisses

E essa concepção de inferioridade feminina foi se perdurando séculos adentro, mesmo com as ações de mulheres inteligentes e extraordinárias que foram pontuando a história da civilização. De Penélope, que enfrentou assédios por anos a fio com a certeza do retorno do marido, o guerreiro Ulisses, que fora participar da Guerra de Tróia; Maria, a mãe de Cristo, passando por Cleópatra (69 a.C-30 aC, a rainha egípcia), Boudica (a rainha Celta que enfrentou o exército romano por volta de 60 ou 61 d.C), Joana D’Arc (1412-31), a guerreira adolescente francesa que expulsou os ingleses e acabou assassinada pela Inquisição; as libertárias mulheres espanholas que criaram a primeira entidade feminista do país e ingressam na Guerra Civil organizadas como um pequeno exército; Rosa Parks (1913-2005), que iniciou derrocada da discriminação contra os afro-estadunidenses em 1955 ao sentar em um ônibus na área destinada aos brancos; Celina Guimarães Viana (1990-72), a primeira brasileira a votar recorrendo à justiça no Rio Grande do Norte, e a carioca Berta Lutz, fundadora da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino em 1982, e até a uma centenas de nomes que hoje integram a história por suas ações libertárias, a mulher ainda está revertendo a sua condição de desigualdade estabelecida pelos homens da antiguidade.

BUm bom livro para se conhecer essas mulheres bravas e guerreiras do passado antigo é Mulheres Audaciosas da Antiguidade (Editora Rosa dos Tempos, 252 pag, R$ 52,00), da historiadora estadunidense Vicki Leon, no qual são descritas cerca de 200 mulheres que não aceitaram a submissão, assumiram posição de vanguarda.

O Cinema tem uma estreitíssima relação com as mulheres, dentro e fora da tela, desde a época em que não tinha voz. Algumas das próprias mulheres que o sustentaram como arte e tiveram as suas ações e histórias expostas nas telas dos cinemas, como a alemã Leni Riefenstahl (1902-2003). Mas, mas foram principalmente as mulheres libertárias, guerreiras políticas, lutadoras por direitos sociais, contra a violência doméstica, pela propagação da paz e notáveis por suas atuações em diversas áreas da ciência, educação e conhecimento humano que tiveram as suas trajetórias expressadas como responsáveis pelas mudanças e progresso da sociedade humana.

Penélope, marcante personagem da mitologia por sua fidelidade e amor e ao marido Ulisses, pelo qual esperou 20 anos para retornar da Guerra de Tróia, não teve ainda um filme dedicado à sua história, mas ela pode ser conferida na aventura Ulisses (Itália, 1954), de Mario Camerini, no qual Silvana Mangano e Kirk Douglas interpreta o casal. A mesma história pode ser conferida na minissérie A Odisseia (The Odyssey, EUA, 1997), produção de Francis Ford Coppola dirigida por Andrei Konchalovsky, com Greta Scacchi e Armand Assante, que narra as aventuras e os motivos pelos quais o herói levou duas décadas para retornar ao lar.

A história de Maria , a mais famosa das mães, ocupa várias produções de Hollywood: na produção de TV Maria, em Nome da Fé (Mary, Mother of Jesus, 1999), dirigida por Kevin Connor, com Pernilla August, e na produção nacional Maria, a Mãe do Filho de Deus (2006), dirigida por Moacyr Goes, com Giovanna Antonelli e o padre Marcello Rossi. Em 2014, Maria vai ganhar outra produção, Mary, Mother of Christ, com a direção de Alister Grieson, com Odeya Rush.

Giovanna Antonelli em MARIA, A MÃE DO FILHO DE DEUS (2006), de Moacyr Goes

Giovanna Antonelli em MARIA, A MÃE DO FILHO DE DEUS (2006), de Moacyr Goes

Nada menos de 39 filmes de diversas nacionalidades exploram a vida de Cleópatra, a rainha do Egito. O interesse das abordagens, no entanto, nunca foi a sua atuação política, o enfrentamento aos complôs da corte e dos militares para tirá-la do poder, mas unicamente os relacionamentos amorosos com os romanos Júlio Cesar e Marco Antonio. Quanto a isso, as referências são as duas versões de Cleópatra (1934 e 1963), dirigidas por Cecil B. De Mille, com Claudette Colbert, e Joseph Mankiewicz, com Liz Taylor e Richard Burton. Curiosamente, somente agora a verdadeira história dessa mulher está sendo revelada pela arqueologia e a ciência e a apontam como desprovida da beleza e que lutou até aonde pode para não deixar o Egito em poder dos romanos.

Outra notável mulher que lutou contra a subjugação romana, Boudica, ou Boadicea ( ), a mulher do rei Prasuntagus, teve um ótima adaptação para o cinema em 2003 em A Rainha da Era do Bronze (The Warrior Queen, Romênia/Reino Unido), dirigida por Bill Anderson, com Alex Kingston no papel da guerreira que unificou as tribos da antiga Bretanha e lutou contra o poderoso exército de Nero.

Estátua em homenagemà Rainha celta Boudica em Westminster, Inglaterra

Estátua em homenagem a Rainha celta Boudica em Westminster, Inglaterra

 

Um pouco mais a frente no tempo, o cinema resgatou histórias de mulheres extraordinárias como Edith Stein (1891-1942 , a teóloga e filósofa judia alemã que ousou adotar o catolicismo e que se tornou presa do nazismo, que a confinou em Auschwitz e cuja vida é redimida em A Sétima Morada (A Hetedik Szoba, 96), de Marta Mészaros, com Fanny Ardant; Rosa Luxemburgo (1871-1919), a filósofa, economista marxista e fundadora do Partido Comunista da Alemanha, cuja trajetória pode ser conferida no filme com o seu nome dirigido em 1986 por Margareth Von Trotta, com Barbara Sukowa; a estilista francesa Coco Chanel (1883-1971), cujas criações determinaram os rumos da moda mundial e a sua trajetória de vida está  registrada em três filmes com o seu nome feitos em 1981 por George Kaczender, com Marie-France Pisier em A Solidão de uma Mulher, em 2009, por Jan Kounem, com Anna Mouglais, que conta especialmente o relacionamento com o amante, Igor Stravinsky, e em 2009 em Coco Antes de Chanel, por Anne Fontaine, com Audrey Tautou, além de um telefilme dirigido em 1968 por Christian Duguay, com Shirley MacLaine.

Na história dos movimentos políticos, as mulheres destacam-se em Libertárias (Espanha, 2004), de Vicente Aranda, ambientado nos primeiros dias da Guerra Civil Espanhola (1936-39), época em que uma entidade feminista chamada Mujeres Libres tentava dar legalidade às suas reivindicações e, na esperança de uma mudança no país, acabou mesmo foi se organizando como um pequeno exército anarquista de mulheres que pegaram em armas e combateram as tropas federais. Um belo filme sobre os ideais femininos.

Outras mulheres que conquistaram o cinema foram Madre Teresa de Calcutá, biografa por seu trabalho de caridade aos pobres no estadunidense Em Nome dos Pobres de Deus (1997), de Kevin Connor, com Geraldine Chaplin, e na minissérie espanhola Madre Teresa (2003), de Fabrizio Costa, com Olivia Hussey; a mulher de Ipanema conhecida como Leila Diniz (1945-1972), que com sua postura amoral para os padrões sociais da época enfrentou a ditadura militar, o conservadorismo e o machismo, teve despojado registro de sua breve porém marcante vida no filme com o seu nome dirigido por Luiz Carlos Lacerda em 1987 com Louise Cardoso; a estilista brasileira Zuzu Angel (1921-76), cuja luta contra a ditadura militar nos anos 60 e pelo resgate do corpo do filho torturado e assassinado pelo regime foi resgatada também no filme homônimo dirigido por Sérgio Rezende em 2006, com Patrícia Pilar; e, mais recentemente, a Margareth Thatcher, a primeira mulher a dirigir um país da democracia moderna, cuja briga com os políticos pode ser conferida no drama político A Dama de Ferro (2011), de Phyllida Lloyd, com Meryl Streep.

Histórias de pessoas que todos precisam conhecer para entender a mulher como a responsável pelas mudanças sociais e por um mundo mais igualitário e, em seu sentido intrínseco, sagrado e humanitário.

 

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